Texto de Hélio de La Peña.
Aparentemente o texto do Hélio de La Peña, não tem nada a ver com o
contexto do nosso blog.
Engano, é uma mensagem linda de amor incondicional de mãe, na véspera
do dia DAS MÃES.
Como tudo que ele faz o texto tem humor, desejo um excelente dia das Mães
a todas Dona Ruth do nosso Brasil.
Esse foi o bem humorado recado que De La Peña deixou no twitter:
oi, mãe! olha só o texto que eu fiz em sua homenagem lá no blog da @brastemp. a gente se vê na fila da churrascaria! http://migre.me/4rWTx
(Talme Cravo)
Toda mãe paga mico. Mas ela não tá nem aí. Principalmente se estiver pensando no melhor pro seu filho. Mãe que é mãe gosta de pegar na bochecha do seu rebento e mostrar pras amigas dizendo: “Mas não é uma gracinha?”. Esquece até que a tal “gracinha” já tem quarenta anos. E ele que não reclame, sabe que se não fosse ela, ele não existiria.
Como todas, minha mãe não poupou esforços pra me ver bem na vida. Fez o que estava ao seu alcance. Como era professora, sua preocupação era 100% com a minha educação. Estava nos primeiros anos do ensino básico (ia falar primário, mas podia denunciar minha idade – e a da minha mãe!) e ela já me obrigava a levar a sério os estudos. E o pior é que não era só eu, meus amigos também! Se alguém batesse lá em casa pra me chamar pra uma pelada, fazia o garoto entrar. Só depois que meu amigo resolvesse um problema ou fizesse pelo menos umas contas de somar e subtrair ela me liberava pra brincar. Em pouco tempo o pessoal da rua percebeu que era cilada tocar a campainha da minha porta. Tinha que fazer meus deveres de casa e sair pelo bairro procurando meus amigos.
Hoje entendo sua atitude e a gratidão das mães dos meus colegas que passaram a tarde fazendo tarefas escolares. Mas na época só pensava na zoação que ia sofrer quando encontrasse a galera.
Um outro caso ligado à minha educação virou folclore na minha biografia. Estudava numa escola pública quando passei para o ginásio (pronto, já descobriram que não tenho vinte e cinco anos!). O ensino no colégio estadual era um desastre, quase não tinha aula, o que eu achava ótimo. Desesperada, minha mãe procurou o Colégio de São Bento.
O ano letivo já tinha começado, portanto não havia mais como ser matriculado. Entretanto, ela não desistiu. Marcou uma entrevista com o reitor, na época, Dom Lourenço. Explicou-lhe minha situação. Dom Lourenço abriu uma exceção e permitiu que eu fizesse um exame de admissão mesmo fora da época.
Minha mãe agradeceu, mas ressaltou: “Olha, Dom Lourenço, somos uma família humilde, não temos condição de pagar um colégio tão caro.”
“Se o seu filho for bem no exame, nós lhe damos uma bolsa de estudos” – respondeu ele.
Minha mãe ficou aliviada. Vislumbrou a possibilidade de me colocar numa escola da elite. Mas, receosa e sem conhecer direito o lugar para onde estava me levando, acrescentou: “Obrigada, Dom Lourenço. Mas… nem sei como dizer isso. É que… é que…”.
“Sim? Pode falar, minha senhora. Qual o problema?” – perguntou o reitor.
“Bem, eu vou dizer. É que meu filho, ele… bem, o meu filho é negro.”
Dom Lourenço olhou pra minha mãe e desabafou: “Bom, isso eu já imaginava, Dona Ruth…”. E assegurou que isso não seria problema algum.
Esse fato mostra que minha mãe não tinha a noção exata da mudança que iria provocar na minha vida, mas tinha certeza de que era pro meu bem. Uma atitude inspirada que até hoje agradeço.
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